segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

A boca,o céu e o mar.

A toalha estendida a horas já absorveu toda a úmidade da areia.Daqui quase só se vê escuridão,as vezes ela se mistura com a luz da lua,alguns raros vultos passam na nossa frente,a gente se afastou demais da 'civilização' não sei se foi distração,ou se rolou um desejo implicito de restar só nós,naquele momento.
Eu deito primerio,ela continua lá,parada,curtindo o som do mar,passam cinco minutos e ela deita também,bem próximo de mim.Tão próximo que dá pra sentir o cheiro dela.Gosto muito desse cheiro,sei lá...É tão ela,é tão dela.Me distraio com o cheiro.Ela fala,eu tento escutar,mas nada está mais tão lúcido.
Bate uma brisa e leva o cheiro embora.Volto a me concentrar.Ela tava falando sobre as estrelas,eu acho.
- Desculpa,me distraí...Acho que foi o céu- Mentira,foi o cheiro dela.
-ah...,ela sorri,eu tava falando sobre como deve ser muito bom fazer amor embaixo desse céu.
Ouço e logo em seguida me distraio.Acho que nunca ouvi ela falar: 'fazer amor'.Enfim,é só um detalhe.Volto e me concentro.
-É deve ser muito bom mesmo...-Me desestruturo.
Silêncio.
Então ela me olha,parece se aproximar,mas para,deve tá com medo,eu também tô.Já  faz um tempo desde a ultima vez...
Pergunto pra minha consciencia se posso.
Silêncio nela,dela.
'Quem cala concente',diz a filosofia universal.
Me aproximo.Não recuo,nem paro.Só me aproximo.Me viro na direção dela.Bem perto do ouvido,eu tô agora.Minha boca avança.Não recua,nem para.Só avança.As palavras saem,mas são poucas,muito poucas e intensas.Dá pra sentir o meu halito esquentando a sua orelha.Então ela avança.Só avança.Fecho os olhos...É como sentir o trem chegar através da vibração dos trilhos.Não preciso ver,eu sinto o corpo dela a centimetros do meu.Não preciso ver,eu sinto corpo dela no meu.
Nesse momento fica  tudo tão intríseco: A boca,o céu e o mar.


quarta-feira, 4 de novembro de 2009

...

"Palavras ao léo.
Morro em mim.
Nasço Para o Papel."
(João lucas Teixeira)

Hoje acordei e senti como se uma parte de mim estivesse morta...Foi como se meu coração tivesse parado,como se me falta-se o ar-amar.Era como se cada pedaço do meu corpo estivesse evaporando...Uma parte muito importante de mim morreu essa manhã...Uma parte que era eu sem ser,compreendem?Uma parte que era tão eu quanto eu mesma.Medo?Sim,sinto como se estivesse no fim.
Algo se escondia em mim...Algo que agora está desabrigado e sem rumo.Esse algo se escondia dentro de um Pé de cerejeira,esse pé vivia em meu coração,um Pé de cerejeira que secou.Esse meu algo está perdido.
Esse meu algo é o Amor.

Então estava eu sentada com olhos embaçados quando um cara parou e disse.
-Quem a gente ama nunca morre...Tá sempre vivo no nosso coração.

quarta-feira, 9 de setembro de 2009

O tempo.

O tempo... Ser abstracto,sem hora, sem minuto,ou segundo.O tempo ao divagar,dilata, mas quando tocado por um sopro de realidade, ele contrai, a pressão torna-se tão grande a ponto de sufocar-lhe o ar, o ar que dá vida ao seu universo, universo que com o tempo se desfaz.O tempo.O tempo se pergunta: “Será isso real, contraio, ou será isso ilusão, dilato?”.
O tempo. O que faz o tempo parar?
-Ah, eu sei... Os sonhos dela.
-Por favor, Não seja tão idealista...
-Então o que serei?
-Racional.
-Racional como a medida do tempo?
O tempo. O que faz o tempo dilatar?
-Ah, eu sei... Os sonhos dela.
-Já disse!Pare de ser tão idealista.
-Não consigo e não quero!
-Já disse!Seja racional.
-Não quero ser a medida do tempo.
O tempo. O que faz o tempo contrair?
-Ah, eu sei... A falta dos sonhos dela.
-Pare!Os sonhos dela não são seus!
-Eu sei, eles são livres... Gosto de vê-los voar.
-Pare, por favor!Não há liberdade, não quero acreditar!
- Os sonhos dela são como deitar na grama úmida e ver a nuvem, no céu azul, passar...O tempo desaparece.

quinta-feira, 3 de setembro de 2009

É hora.

-Sabe as vezes penso que você tá aqui.É tão legal.
-Aí,tu pensas que vais me ver quando menos espera?
-Não,eu sei que não vou te ver quando menos espero...Mas é como se eu me transformasse em você aos poucos.
-Tu te morfas?
-É,eu sou uma power ranger.
-É,eu tbm.Ah,te contei meu segredo.Estou aqui para uma missão.
-Eu sabia!Essas tuas viagens super secretas,esses teus sonhos...Só uma power ranger se alimentaria de sonhos.
- E Teria um foguete.Ops não consigo esconder meus segredos das pessoas que eu amo... mas como tu também és power.Tu sabes te defender
-aaa,eu tbm não,eu acho.Sabe o que eu vou fazer?
-Não
-Eu vou morfar pra te ver!Um.Dois.Três e...Agora olha,devagar,pra tua direita...Tá me vendo?
-tô!Incrível,não sei fazer isso
-Olha de novo.Agora vou me desmaterializar,aos poucos.
-To sorrindo pra ti.viste?
-Estás percebendo que eu tô ficando transparente?
-Sim.Não vaiiiiiiiiiiiiiiiiiii
-Eu tenho que ir,o carinha lá,que fica preso naquela lata,me mandou pra um missão super secreta,a não ser que você vá comigo.Quer ir?
-Sim!Deixa eu me concentrar.
-Tá.
-Acho que não vou conseguir,não comi muitos sonhos.
-Poxa,eu tenho alguns quer?
-Quero, os teus tem um sabor muito bom.Pra onde nós vamos?
-Não sei.Não sei se quero saber...
-Ah,sei como é... vamos sentir, né.
-Ai,finalmente consegui chorar...

quarta-feira, 19 de agosto de 2009

João Pé de Cereja


Seus fios de cabelo eram cacheados,daqueles que crescem como árvores.
Na verdade,ele era uma árvore daquelas que crescem rapidamente para cima,porém os lados continuam inertes...Talvez fosse uma laranjeira.
Era julho,quando suas flores começaram a surgir,as pétalas eram rosadas,logo os frutos começaram a nascer,eram pequenos,redondos e vermelhos.
Ele era uma cerejeira!E as pétalas de suas flores eram seus cabelos...
Já estavamos no final de agosto,quando as pétalas de suas flores começaram a cair,calmamente,sob o sol ameno,que anunciava a chegada do outono...
A grama já não era mais verde,ela havia se transformado em rosa.
Várias pessoas vinham,de longe,para se deitar embaixo dele,todos queriam sentir seu cheiro,sentir suas pétalas caindo sobre seus rostos...Celebrações foram feitas em suas homenagem.
Outono havia chegado e suas flores se foram...Seus galhos estavam nus,esperando o inverno...Para depois poder renascer e suas flores desabrochar.

quarta-feira, 29 de julho de 2009

Embarque.


Acabei de ler a tua carta,usei a imaginação,a pena,tá bem guardada.
É engraçado a medida que o onibus avança a vegetação vai ficando cada vez mais diferente...
Não sei,ao mesmo tempo que é tão bonito,é tão assustador...Na beira é tudo tão seco,mas quando eu avanço o olhar,se abre um verde tão lindo.
Acho que algumas plantas pensam estar no outono.
Ontem fez uma noite linda na estrada e o amanhecer foi magnifico,queria ter tirado uma foto.
Enfim,continuo a olhar a paisagem,sei que logo vou esquecê-la.
Paramos!
Tava lembrando que as lembranças são uma mentira,biologicamente falando,a mente(re)edita os fatos.Enfim,acho que por um lado é bom.

"Não estava preocupado(...)De alguma forma,eu queria dizer que tudo aquilo importava pouco.Se soubessemos controlar a nós mesmos,ao nosso temor(...)Queria dizer ao Raul que pensasse no tempo que fatalmente passaria,como sempre passa.
O que hoje é drama,sempre,amanhã estará quieto na memória"


A chuva tá se formando.Queria subir um desses morros aqui do lado.
Sinto como se estivesse aos poucos evaporando.
Uma cruz,em memória de quem se foi,na beira da estrada.
Flores amarelas,queria pegar pra ti.
Flores roxas...
Flores brancas...
Agora uma mistura delas.
As arvores de tronco fino...
Os trilhos dessa fuga...
Bananeiras com os cachos ainda verdes.
Uma arvore cheia de flores rosas.
Sabe,eu também sou muito preguiçosa.
Crianças brincando na terra vermelha,sob o sol.

"Me explica que ás vezes tenho medo.Deixo de ter,como agora,quando o vento cessa e o sol volta a bater(...)"

Nem choveu,chegamos em Goias,tá fazendo um frio gostoso.
As estrelas do teu quarto ainda brilham?
Ah,esses fragmentos são do "Triangulo das águas" do caio fernando.

"És meu oposto,mas se por amor confundes e libertas o caos de tudo e de todos,por amor eu tento tocar mais fundo,procurando um vôo que não conseguiria jamais num amor menor"

Olha,uma casa sozinha no meio da serra.
Sabe,quando se viaja para outros mundos,você percebe que aquele em que você vivi é pequeno demais pra você.

Lembrei da gente no cumbu:
-O que agente tá olhando?
-O mundo.
Tchau.

sexta-feira, 29 de maio de 2009

Olha o universo que eu construi.

Era uma manhã nublada,mas o sol ainda insistia em iluminar certas partes da cidade,meu quintal era uma delas.Estava descalça quando sai para o quintal,podia sentir a grama umida abaixo dos meus pés,eles estavam tão confortáveis na terra molhada.
Alguns metros de distancia de mim as borboletas,amarelas,dançavam em sincronia.O sol que insistia em iluminar,refletia a cor delas,tornado-as mais irreais.Elas passavam no meio das flores e chamaram minha atenção para uma flor que jamais havias visto em meu jardim.Me aproximei calmamente...ela era tão bonita,então tirei uma para mim.
Aquela flor tornou-se meu universo,naquele momento,nada além dela me importava,nada que não estivesse nela me importava... sentia seu cheiro,tocava em suas pétalas,retirei uma por uma na ânsia de descobrir o que ela escondia dentro de si.
A cada pedaço retirado e observado,eu construía meu mundo,porque os meus sentimentos por ela não se baseavam no que estava fora de mim.Era o meu mundo construindo cada sentimento,cada conceito...
Então gritei,o mais alto possível,-OLHA O UNIVERSO QUE EU CONSTRUI.

sexta-feira, 15 de maio de 2009

O Mundo,o Caos e o Eu.(Change,de verdade)

"(...)I watched a change in you
It's like you never had wings
And you feel so alive
I've watched you change(...)"
O mundo no caos e esse Eu me consumindo.As crianças da Somália,os refugiados do Afeganistão,as favelas,tudo acontecendo,enquanto eu me deixo destruir por uma dor Minha.
O mundo inteiro no caos e eu aqui...pedindo para o meu Eu me amarrar nesse trilho.Peço para ele me amarrar cada vez mais forte,mas e as crianças da Somália?Quem mudará o mundo?Quem carregará ele nas costas?Enfim,não adianta mais se lamentar,acabei de pedir para o Eu me impedir de fugir,disse para ele colocar seus pés sobre meu tórax,caso tentasse alguma fuga.
Tudo começa a tremer agora,o trem se aproxima,consigo senti-lo,fecho os olhos para sentir melhor esse movimento caótico.Sempre disse:Esse hedonismo ainda vai me matar,irónico,não é?.Já posso escutar a buzina,sentir o cheiro da fumaça,esse movimento intenso não pára.
Tá chegando.Me desculpem crianças da Somália,refugiados do Afeganistão,favelas.Tá chegando.Adeus meu Eu.Tá chegando,mas antes preciso gritar,eu acho.Não,não posso tenho que ser forte pelo mundo,pelo caos,pelo Eu.Tá chegando.1.2.3.e...

sábado, 9 de maio de 2009

A Arma.

Era um metal polido,Ele refletia,parecia um espelho,seu cano gelado estremecia minha pele,fiquei gelada como ele,era o medo,talvez,que me invadia por dentro,lentamente.
-Fala!
-Falar o quê?!
-Não sei,Fala,palavras talvez...
-Não quero!
Ela pressionou mais o cano no meu rosto,doeu um pouco.O medo continuava a me invadir lentamente,porém com uma brutalidade.Meus pensamentos entraram em colapso,já não sabia mais quem estava segurando a arma,the gun,não sabia se era eu ou se era ela.Ela pressionou mais,senti uma gota de suor escorrer pelo meu braço.Pensei em pedir para ela limpar,mas não ia fazer esse favor.

-acho que ela me odeia,ou talvez nem ligue pra mim,pensei.

Queria entender o sentido daquilo tudo,mas não consegui achar sentido algum.Foi tudo tão banal e rápido,lá estava eu sentada,pensando,ou fingindo que pensava,então de repente ela apareceu,com aquela arma na mão e colocou no meu rosto.Me assustei,achei que ela iria atirar logo,na aquele momento,entende?Mas não,ela ficou parada me olhando,e rindo,rindo pra mim.Porque ela riu?Nem sei.Continuava com medo.

-Ai,não atira por favor,não atira,pensei desesperadamente.

Ela parecia tão calma,chega dava raiva,por que ela continuava tão calma enquanto eu me desesperava?Não sei,talvez porque ela estivesse segurando a arma e não eu.

Ela disse alguma coisa?não ou disse,nem sabia mais.
-Você disse alguma coisa?,perguntei com medo.
-Não,não tenho nada pra te dizer.

Não aguentava mais aquele cano gelado na minha pele,ela pressionando mais,querendo que eu me rendesse,mas sem querer se render também,o suor se multiplicando e escorrendo por todo o meu corpo,que a cada minuto ficava mais imundo de tanto medo,aquele sorriso de vitória dela,não aguentava mais,não aguentava!

-Ai,atira,vai atira!Acaba logo com isso,por favor!Atira,acaba logo com isso!,quis gritar isso,mas não consegui,a voz só saia na minha mente.

Ela olhou novamente nos meus olhos,foi a ultima vez que ela fez isso tão não sinceramente.

-Vai puxa o gatilho,vai!,pensei de novo,gritei no meu pensamento de novo.
-Olha,vou seguir por essa estrada,ta vendo aquela oposta ali?Vai por lá.

Continuei sem emitir um som,silêncio total em mim,já não sentia mais medo,ela havia retirado o cano de mim.Vi ela partindo,o sol distorcia a sua imagem,linda,indo embora.Não sabia que horas eram...se amanhecia ou se entardecia.Me coloquei a andar,tinha muitas coisas ainda para fazer.Queria ter dito tchau,infelizmente não consegui,meu único arrependimento.

quinta-feira, 7 de maio de 2009

Canção.

Ela me acordava todas as manhãs com sua doce melodia,suas notas ecoavam em minha mente me tornado mais alegre.Eu a escutava todos os dias,em todos os lugares,quando estava impossibilitada de escutá-la ela tocava em minhas lembranças,vinha cantar minha memória.
Eu precisava dela,era substancial.
Tomava seus 4 minutos e 25 segundos ferozmente para mim.Eles me consumiam com uma rapidez inexplicável.Então a repetia de novo,de novo,de novo....
Era um vicio,meu vicio.
Até tentei outras,mas nenhuma superava ela,nenhuma despertava em mim o que ela,a canção,despertava.
Enfim,sempre voltava para a canção,minha canção.
O tempo passou,passou...e a canção já não fazia minhas manhãs mais tão alegres,não sei...eu acordava,colocava para tocar e ao invés de me deixar feliz,ela pesava,pesava em mim.As suas notas soavam tão diferentes,ela já não era mais a canção que havia conhecido,minha canção.
Me desesperei.
"E agora?O que vou fazer?E se a canção nunca mais tocar para mim?",pensei.Foi quando percebi que a canção havia se cansado de mim,a sua melodia havia mudado porque ela quis assim.
"Não a culpo",refleti
Na verdade a culpa foi minha,não deveria tê-la escutado tanto e tantas vezes.Deveria ter esperado,percebido o real efeito que ela causava em mim.Quis consumir rapidamente seus curtos e frágeis minutos,quis ela só para mim,porém me esqueci que ela era uma canção e como todas as outras canções o seu destino era percorrer o mundo,ser livre,ser escutada por todos.
Não queria esse destino...perdê-la doeu bastante.Hoje,já não a ouço mais,não quero sentir seu peso pesando em mim.
A chamo de "canção",porque não é mais "minha canção".